quinta-feira, 21 de novembro de 2013


O cansaço escorre pelos olhos entreabertos, a fixar qualquer ausência de certeza.
Nada era certo. E era tudo tão e sempre igual que saltava de leve clichê para crítico vulgar.
Rabiscava os desprazeres e ansiava que as folhas respondessem. Mas as folhas não eram as mesmas.
Nada ali lhe pagava um tanto de atenção. Os objetos -cada um deles- desconheciam sua existência. Sem sombra, sem gosto, presa num obscurantismo do próprio valor.
O sentido oculto se deixava perceber em seu aspecto, atravessava os cômodos como se nada fosse, incorpórea imagem.
Não havia papel que compensasse a falta do que expressar. Era o vazio da folha em si. Mesmo a folha já não sendo a mesma, o branco, a interrogação implícita, a oferta de consolo já não impressionavam mais.
Achou-se envolvida na situação embaraçosa que era ser.
Rasgou a folha, rasgou a parede branco-encardido, rasgou lençol, as mãos e a coragem. E dormiu.
Mais uma vez. Outra vez. E tudo acaba, até que recomece novamente.

domingo, 17 de novembro de 2013

private shit always come out.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Salve em mim

Se é que fica em nós, mostre-me onde.
Se a vida de quem se vai, nos acompanha, diga-me onde encontrar.
A busca tem me cegado.
Somos rasos, precisamos tocar e ver. Porque sentir, nem sempre é conforto.
No peito, aperta a voz, e como um córrego de lágrimas secas, segue a empedrar a garganta.
Áspero pedido de volta. Não atendido.
Cada vez mais seco de lágrimas, travada garganta, peito rachado.
A urgência se desfaz em desesperança, descrença.
Vai, mas mostre-me.
Onde fica você, além de aqui, nessa dor calada.

Carta

Reciclável amigo,
estive precisando de você nos últimos dias.
Algumas coisas ruins aconteceram e estive sentindo falta do seu abraço.
Sofri os reflexos de tragédias muito próximas, umas bem tristes.
Sei que por me ocupar com novos amigos, te afastei. Mas neles, não encontro teu ombro.
Agora me sobra tempo pra chorar. E você não está aqui.
Sinto sua falta.




(Quem nunca se sentiu o destinatário dessa carta?)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pressuposto

O teu medo, minha vontade.
Você se esconde, eu mantenho a força do querer, tocar, sentir.
A cidade aposta na nossa insegurança, eu continuo a pulsar.
Cada tentantiva, uma ilusão. Você ameaça surgir, eu latejo.
Teu ato, meu efeito.
Minha perdição te incomoda, meus hábitos me arrebatam.
Minando as chances ou possibilidades, são pequenas brigas, me levam a perder o que ainda não conquistei.
Pouca fibra, incerteza, não lutar, cair de receio, ceder.
Não me adianta prever se não posso te convencer.
Se ainda houvesse um molde, uma receita, uma regra... ah, se houvesse um jeito de te mostrar.
Quero mais sorte no cruzamento, quero pé de coelho, acreditar no acaso pra te levar.
O que mais vier, é trevo.
Nós de vento.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ônibus vazio

De mão dadas.
Se toda história começasse em união, as mãos não sentiriam frio.
O espaço em tempo ocupado por você é doce.
Um fio de cabelo que cai, o sol que reflete no vidro da janela e dispersa a atenção, o olhar, o pedido implícito de que a vontade fosse recíproca.
O balaçar que incomodava no começo, adormece os dois corpos fatigados
O lugar desconhecido, o medo de se perder, o medo de te acordar longe de casa.
De mãos dadas. E eu não conseguia te acordar. Porque eu estava sonhando que aquilo era verdade.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Descampado

O adeus nunca esquecido, a constante razão pra chorar.
Conter em si e não apagar, não se opor.
Ente amado até (fazer) cessar.
E depois de enjaular memórias e entenguir o coração, continua latente.
Todo dia.
Rasgo entre leveza e tormenta, os olhos se fecham em sinal de displicência, exaustão.
A preparação longa feita pela mente na tentativa de encontrar agudeza de espírito, plena paz. Que se faz tão utópica.
Inacabado. A tua vida acabar, veio a repartir a minha.
Repartir. Partindo de mim, levando nós.
Leve. Me leve também.


Vela que se apaga, luz que derrete minha saudade.
Lânguida flor a renascer com as pétalas enterradas na terra. Desertificar (me).